segunda-feira, 24 de agosto de 2009

História

A esperança do banheiro
Ronald Gonçales

Era uma noite fria. Em algumas horas, o avião chegará no aeroporto. Pelo seu quarto, roupas e mais roupas esparramadas. O maço do seu cigarro já se esgotava pela sexta vez no dia. Existiam muitas expectativas, mas, sobretudo, aquela saudade que queimava o seu peito e dilacerava a sua garganta ruidosamente. Sim, há seis anos atrás, a terrível despedida confirmava que o fim era para o bem. Mas não foi e, desde então, Laurie sonha com o retorno dele.

Por uma amiga que há tempos não via, Laurie soube da volta de Frederico. E foi de repente, tanto quanto a vida e as suas surpresas do dia-a-dia. Desde a despedida que Laurie não recebia notícias de Frederico. A ideia era a de não se encontrarem mais. Mas como? Durante todos esses anos, em nenhum momento, Laurie deixou de pensar em seu amado. Não, em nenhum segundo, talvez em nenhum milésimo. Mas havia a esperança do reencontro.

Antes de tomar o táxi para o aeroporto, e ao desligar a última luz do apartamento, Laurie fechou os olhos, encheu-se de coragem e confiança, perfumou-se novamente e sorriu levemente. Nem sei há quanto tempo que não reparava mais no sorriso brilhante de Laurie. Desde que Frederico partiu, era como se um cadeado fosse trancado em seus belos lábios e aquela sua “vidinha”, tão sem graça, tão monótona e tão chata, ganhasse e roubasse todos os espaços. Há anos que mais parece muda como uma planta: é só trabalho, apartamento, televisão e, em seus olhos, uma amargura que sinto ao visitar cemitérios.

Mas lá se vai Laurie. Exuberante, tão radiante quanto ao brilho solar, com o seu aroma que chega até aqui, na minha sacada. Devo segui-la? A razão diz que não. Há tempos que as minhas voltas pela cidade ocorrem apenas quando as dela despertam. Mas o coração diz que sim. Cara ou coroa na moeda de um real é uma boa alternativa... Se der cara, vou atrás dela, se a sorte anunciar coroa, fico aqui, na ansiedade de seu retorno. Ah, deu cara!

(...)

Como esse aeroporto é grande. E como pessoas vem e vão o tempo todo. Aqui a impressão que se dá é que a vida é ilimitada e os sonhos – que se encontram – imensos.

Ah, lá está Laurie, na espera. Linda! Como me faz bem vê-la assim, mesmo que o motivo desta alegria encantadora seja Frederico. Por ele, guardava raiva, ódio, inveja e pavor. Se pudesse, o abençoaria com um soco que desconfigurasse o seu belo rostinho com olhos verdes. Mas não posso, pelo contrário, desejo tanto que ele logo chegue.

Já eram mais que dez horas da noite. O horário da chegada do vôo de Frederico estava previsto para as nove. Mas Laurie ainda estava lá, com a mesma alegria de horas atrás.

(...)

Novo tumulto, novas pessoas e, Frederico lá. Mais gordo do que da última vez que o vi. Ele está de mãos dadas com alguém. Laurie se esconde atrás de um telefone público. Eu continuo agora a observar Frederico. Uma mulher, a Alice, meu Deus! A Alice? A melhor amiga de Laurie que, pouco antes da partida de Frederico também viajara à Inglaterra. Frederico segurava na mão esquerda de Alice que, em sua mão direita, apertava fortemente a mão de uma pequena que trazia o mesmo olhar esverdeado de Frederico. Uma família. Uma nova família, a de Frederico.

Foram poucos minutos que me desconcentrei da presença de Laurie e, quando notei, ela já não estava mais escondida no telefone público. Deixei Frederico para lá e corri para tentar encontrar Laurie. Onde estaria? Lembrei-me de algo importante, sempre que o telefone tocava em seu apartamento, Laurie antes corria para o banheiro. Era uma forma de renovar as esperanças ao se olhar no espelho enfim, todos esses anos, ela aguardava a ligação do amor de sua vida. Fui a vários banheiros do aeroporto e quando estava quase desistindo, um tumulto no banheiro do outro lado do aeroporto me chamou a atenção.

Laurie estava lá. Desta vez morta com os pulsos sangrando e a sua vida tragicamente finalizada. Coloquei-me a chorar. Para sempre havia perdido o meu grande amor. Para sempre!

9 comentários:

Camila Silveira disse...

Rô, amei!!! Invista nesse dom! Beijosss
Camila Rozinelli

Anônimo disse...

Amigo e irmão,adoro você e o espírito que tens, sei que seu sucesso será inevitável e pode ter certeza que sempre rezarei para isso....conforto toda minha esperança em te ver fazendo o que gosta e da melhor forma possível....e diga-se de passagem com sucesso total.....você tem o dom e sou seu fã...amuuuuuuuuuuuuuuuu muito você,sou feliz demais por ter alguém assim como você meu lindo e irmão......felicidades sempre gatão...

de seu sempre irmão que te ama muito Rodrigo

Luciano Alvatti disse...

Poxa! Sempre soube que tinha muito talendo, mas desta vez se superou mesmo!
Ta lindo Rô, deveria escrever mais, sempre disse que poderia escrever um livro né???
heheh
Parabéns, morro de orgulho de você!!!

Unknown disse...

Ao ler seu texto, tive um misto de sensações, várias reflexões. O Amor sempre nos provoca, sempre nos instiga, nos desafia!
Mas, principalmente, fez-me pensar em como depositamos a nossa alegria nos outros. Que querendo nos encontrar, buscamo-nos nos outros! Uma pena. Pois perdemos as chances, as oportunidades que a vida, sempre, de uma maneira ou outra, nos propicia.
É isso aí, meu romancista predileto. (Rs)O texto é muito bom, sensível, delicado, profundo!
Me mata de ORGULHO! Amo.

Janjão disse...

Toda vez em que o Narrador é também parte da História, sem ter a pretensão de ser o protagonista, corre-se o perigo de nos perdermos no desenvolvimento do conto. Pois o oculto narrador sem nome, segue um amor ao qual ao mesmo tempo n é correspondido, nutri-se uma esperança de vir a se-lo. Mas estes sentimentos apenas são ingredientes da trama e n a História principal. Esta sim é de Laurie e seu amado, cujo amor extrapola a lógica humana, n deu sofre, mas parte p outra. Tirar a própria vida é celebrar lembranças de um amor perdido. Gostei do ritmo, suspense e reflexivo, que n nos leva a crer que a personagem tiraria a vida, após perder seu amor. Talvez investir mais no ritmo sombrio e ao mesmo tempo de paixão seria uma dica p um próximo conto desta natureza. Gramática em cima e o lance de deixar claro os cenários e suas mudanças é muito cinematografico. Esta linha eu tb gosto, separar no texto os locais em que a trama se desenvolve. Perfeito.

Janjão disse...

tava me esquecendo. Não gostei do titulo, acho muito direto pra proposta do texto. Se o clima junta suspense e paixão, teria que ter um nome mais condizente com isto, que deixa-se a coisa no pensar do leitor. Talvez um titulo que n esta no texto, mas subjetivamente ele se encontra.

Anônimo disse...

Rô vc sabe que eu ñ sei 'falar bonito',
eu gostei muito, muito mesmo logo no começo eu me prendi a historia e logo fiquei muito ansioso e me senti dentro da historia. gosto muito de historias assim.....

Parabéns.

Abraçosssss...

Fer...

Sabrina Franzol disse...

Roo, é fácil notar que você escreve com amor, e é assim que consegue nos transmitir algo bom.

Adoro ler suas palavras.
Parabéns!

gESE LORIATO disse...

Ronald meu Guereiro!
Estou feliz e orgulhosa pela coragem e iniciativa de se colocar a prova de sua produção. Esse passo é importante, pois te orienta a perceber o que o leitor está pensando e assimilando. Parabéns por mais um passo para seu maior desafio.
O texto tem características que eu gosto; trata de um sentimento guardado e prestes a ser destruido.
É levado com clareza, embora desperte o suspense. Achei interessante a proposta do narrador ser parte da história, ligando-se ao sentimento cúmplice com a figura principal do texto. O conteúdo é forte exatamente por tocar no sentimento maior o amor, por nós e pelos outros, e quando ele deixa de ser algo a ser compartilhado e passa a ser a razão de nossa vida, nos levando a perder nossa identidade. Profundo e sensível, amei.
Quanto ao título, ele foi muito previsível e apresentou o final da história, antes mesmo de terminá-la. Acho que pode vir implicito e menos sugestivo.
No mais, AMEI!
EU TE AMO.