O nome dele era Renato e seu sobrenome pouco importa. Carioca, o menino de 10 anos, morador de uma das maiores comunidades do Rio, assistiu, ao acaso, o anúncio de que o seu país será cenário de uma momento histórico: Sede das Olimpíadas de 2016. O garoto, que trajava uma bermuda da cor verde, bastante suja, uma camiseta amarela, rasgada, com as promessas de um Brasil campeão da Copa de 2002, e um boné azul, trazendo propaganda da “Casas Bahia”, loja, inclusive, em que conseguiu assistir à revelação feita por Jacques Rogge, presidente do Comitê Olímpico Internacional, onde entrou – observado rapidamente pelos seguranças – para tomar uma água gelada no bebedouro, fugindo do sol ardido lá de fora. Seus bolsos tilintavam um agradável “barulhinho” de moedas. Enquanto o observava, nem notei que estávamos tão próximos um do outro. Tio – ele disse. O que significa isso daí “pra” nós? É muita coisa, rapaz. Será investido muito por aqui. E o que é investir? – perguntou-me. É... Pensei um pouco, na verdade muito, e ele insistiu: O que é isso aí, mano? Talvez comecem a oferecer um sistema de saúde mais adequado, injetem mais grana na segurança e na educação – pontuei, sem ter a certeza se havia dito algo coerente. Hã – resmungou a criança – Então minha mãe vai ficar feliz com esse lance aí da segurança. Só lá na minha “goma” “mora” nove “pessoa”, isso porque três já “foi” pra terra, “morridos” lá na minha comunidade. E quem eram esses que morreram? – interroguei. “Era” meus “irmão”, o mais “véio” tinha o mesmo nome que o meu, Renato – gabou-se. Nesse treco aí que “passo” na TV tem futebol também? Tem sim. Você curte futebol? Muito, tio. Jogo, quando não tenho que “trampá”. Ah. E você trabalha com o quê? Estuda também? Nada, tio, “tá” tirando? Estudar é coisa de luxo, eu “trampo” nos faróis mesmo, arranco umas moedas aí “pra” ajudar em casa. O silêncio tomou conta de nós dois. Tio – disse-me. Quem sabe lá nesse lugar aí eu “num” jogo bola, né? É meu sonho, sabia? Ser igualzinho “o” Ronaldo – revelou de peito inchado. Fomos interrompidos pelo vendedor da loja, estava prestes a adquirir uma TV de plasma para enfeitar a sala lá de casa e, como num passe de mágica, Renato sumiu.
Hoje, um pouco mais do que um mês desse episódio, vendo os noticiários da TV de plasma – recentemente comprada – no ápice da violência no “Morro do Alemão”, observei uma senhora chorando pela perda de um filho por uma bala perdida. Ao seu lado, outras crianças apertavam suas pernas enquanto uma mamava em seu peito. O microfone de uma repórter transmitia o drama daquela mulher. Não dá mais “pra” nós “morar” aqui não, dona – relatou a senhora desesperada, chorando copiosamente. Ele tinha o mesmo nome do mais velho e não parava de falar que iria ver as Olimpíadas em 2016.
Nas mãos dela, o boné da “Casas Bahia” ainda estava com manchas de sangue...
Hoje, um pouco mais do que um mês desse episódio, vendo os noticiários da TV de plasma – recentemente comprada – no ápice da violência no “Morro do Alemão”, observei uma senhora chorando pela perda de um filho por uma bala perdida. Ao seu lado, outras crianças apertavam suas pernas enquanto uma mamava em seu peito. O microfone de uma repórter transmitia o drama daquela mulher. Não dá mais “pra” nós “morar” aqui não, dona – relatou a senhora desesperada, chorando copiosamente. Ele tinha o mesmo nome do mais velho e não parava de falar que iria ver as Olimpíadas em 2016.
Nas mãos dela, o boné da “Casas Bahia” ainda estava com manchas de sangue...
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