quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Só comida?

"A gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e arte". Se Arnaldo Antunes, Marcelo Fromer e Sérgio Britto, compositores da canção “Comida”, no ano de 1987, já previam que a sociedade necessitava da arte e da cultura assim como outros bens fundamentais à nossa existência, imagine o quanto esta composição ainda se encaixa nos dias atuais, com o excesso de informações e a ignorância política crescendo cada vez mais.

O que era para ser de todos, pertence apenas à elite de uma sociedade em que a banalização da cultura é mostrada todos os dias, com o novo grupo de axé, pagode, funk, etc. O que vale mesmo é ser o mais ridículo possível... E, mostrar os nossos valores reais? Pouco importa. Alias, nada importa, a não ser estar com o corpo todo sarado e o bumbum dentro dos parâmetros estabelecidos pelas revistas de moda.

Por trás desses disfarces todos, há uma agravante que vai para além dos nossos olhos: O que há com o que é nosso? Como podemos exigir os nossos direitos? Como podemos ter acesso aos patrimônios culturais se eles custam caros? Mas, oras, não eram para ser, por direito, de todos nós?

Como podemos assistir a shows dos grandes mestres da música popular brasileira, referencial em todo o mundo, como Chico Buarque, Caetano Veloso, Maria Bethânia, se o custo para isso é muito além da nossa realidade?

Mais do que grandes espetáculos ao ar livre esporadicamente, para a comemoração de datas especiais, o país necessita de uma política pública cultural com urgência, a cultura anda de mãos dadas com a educação. Enquanto esta educa e leva o indivíduo ao conhecimento, a cultura permite que as pessoas tornem-se mais capazes de lutarem por suas opiniões, mostrando a realidade dos fatos, permitindo que a sociedade deixe de agir de forma passiva a tantos abusos impostos, sejam estes políticos, educacionais e econômicos.

A verdadeira revolução possível é a cultural. Com a arte, podemos tirar as crianças das ruas, do mundo do tráfico, e trazê-las para o mundo das cores, das possibilidades, ensinando-as a preservar os prédios públicos, a valorizar as suas manifestações de pensamentos e habituar com as ações culturais.

No caso específico da cidade de Limeira, interior de SP, os festivais de música e de teatro têm dado um novo gás à população, esta que traz o tom para tais manifestações. As poltronas do Teatro Vitória (único teatro municipal da cidade) ficam lotadas de gente que não perde as apresentações artísticas. As ruas, com os espetáculos da categoria “teatro de rua”, chamam a atenção de todos que por ali passam.

Diante desse cenário, nota-se uma mistura agradável no público: é a criança que nunca teve chance de assistir a um teatro – que nem pisca os olhos com medo de perder algum gesto ainda melhor -, são os senhores e as senhoras que também nunca tiveram a chance de frequentarem um teatro, por acharem que a cultura é algo caro, o público que sempre acompanha a agenda cultural do município, etc. São todos espectadores buscando uma saída de emergência para a cabeça, que anda tão alienada pelos meios de comunicação, com a falta de esclarecimento e excesso de sensacionalismo. Com a arte, é possível respirar. É possível encontrar, dentro da alma, a emoção transbordada por uma palavra articulada, uma voz afinada, uma canção que traz saudade, amor ou dor.

Precisamos, com urgência, valorizar mais a cultura. Os governos precisam entender que esta seria a solução para uma sociedade melhor, menos violenta e conturbada. A cultura, quando acessada, desperta sentimentos escondidos em todos os indivíduos. E a troca não é unilateral. A cultura proporciona à pessoa uma incrível sensação de paz e inquietação... E, por sua vez, o sujeito busca um eterno encontro com a sua maneira de expressar-se, sem medo, sem receio... Acreditando em si. Triste contradição: acreditar em si vale mesmo a pena nesse mundo de tantas inversões de valores? Com a arte há a certeza que sim!

Busquemos sim a nossa comida! O mundo anda muito globalizado, o capitalismo potencializa tanto a desigualdade, e sem comida não há vida. Mas não deixemos de buscar (e lutar) pela cultura! Vamos dar as mãos. Acreditar no que é nosso. Valorizar o que é nosso. E, em coro, ecoarmos a canção escrita há mais de 20 anos, que diz tanta verdade. E, em reflexão, ficam as questões: “Você tem sede de que? Você tem fome de que?”.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Eleitos delegados para a Conferência Estadual da Cultura

População defende cultura democrática e orçamento participativo na elaboração dos projetos artísticos em Limeira.

Ocorreu no sábado, 17 de outubro, o debate da Conferência Municipal da Cultura, na Câmara de Limeira. Além de dezenas de propostas apresentadas pela sociedade civil, para as fases municipal e estadual, houve a eleição dos delegados que representarão o município na discussão estadual da conferência, que acontece na segunda quinzena de novembro. A realização da Conferência foi da Prefeitura, por meio da Secretaria da Cultura, Associação Cultural e Técnica dos Artistas de Limeira (Acarte) e Câmara, contando com o apoio do Instituto Superior de Ciências Aplicadas (Isca).

Representantes dos mais diversos gêneros das artes marcaram presença e apresentaram propostas e ideias em relação à cultura de Limeira e do estado de São Paulo. Segundo o diretor do Centro Cultural e Bibliotecas, da Secretaria da Cultura, Juraci Rodrigues Soares Requena, “o público participante fez pontuações importantíssimas para a cultura da cidade”.

A mediação da Conferência foi ministrada pelo secretário da Cultura, Adalberto Mansur. O secretário afirma que as discussões foram válidas e ofereceram uma grande vitrine dos anseios da população.

Para o vereador professor José Farid Zaine (PDT), a realização da Conferência confere um grande avanço à cidade no sentido da participação popular que “sempre que consultada elabora novas e ótimas parcerias com o Poder Público”.

Delegados
Foram eleitos, para defenderem as propostas do município, cinco delegados, que são: Lucas Barbosa Barel, Liege Vicente, André Assunção, Fernanda Moreira e Otacílio Monteiro.

A jovem Fernanda, 22 anos, mostra-se otimista para auxiliar e argumentar, no estado, a participação do município. “Vamos defender propostas de uma cultura mais democrática e um orçamento participativo, sintonizando a sociedade civil com o governo, para que ideias já existentes sejam fortalecidas e novas possam surgir”, cita.

De acordo com ela, dois foram os temas mais abordados na Conferência: A criação do Conselho Municipal da Cultura e a implantação da Lei 2702/94, que institui na cidade, incentivo fiscal para a realização de projetos culturais, a ser concedido a pessoa física ou jurídica. A proposta é também conhecida como a “Lei Farid”.

Os temas discutidos na Conferência foram: 1 - Produção Simbólica e Diversidade Cultural; 2 – Cultura, Cidade e Cidadania; 3 - Cultura e Desenvolvimento Sustentável; 4 - Cultura e Economia Criativa; e 5 - Gestão e Institucionalidade da cultura.

Em 19 de outubro de 2009

Discussões da Conferência Municipal da Cultura em ritmo acelerado

Na manhã deste sábado, 17 de outubro, iniciaram as discussões da Conferência Municipal da Cultura, na Câmara de Limeira. Cerca de 100 pessoas, confirmando gerações diferentes, estão representando os mais diversos setores das artes. Neste primeiro momento, foram divididos grupos, que se transformaram em eixos, para os debates dos cinco temas propostos pela Conferência (veja os temas abaixo).

Hip-hop, literatura, música popular, artes cênicas, produção cultural, orquestra, escolas de arte e a arte clown estão sendo representadas pela população. O secretário da Cultura, Adalberto Mansur, e o vereador professor José Farid Zaine (PDT), estão participando das discussões, que devem ocorrer até às 16h.

Marcelo Pereira Gonçalves, 26 anos, representante do movimento do hip-hop, observa que este tipo de manifestação aproxima o hip-hop de lugares que, nem sempre, consegue atingir. “É uma troca de experiências do movimento com outros setores da cultura”, explica.

O produtor cultural Vagner Fernandes (25) pensa que a Conferência poderá fortalecer um antigo sonho da classe artística, que é a criação de um Conselho Municipal da Cultura que, a princípio, “poderia ser conduzida pelas próprias lideranças atuais locais”.

A violoncelista Andreza Zacabi (26) acredita que duas importantes tarefas ampliariam o acesso à cultura à população, com recursos financeiros e novos espaços físicos: “Há uma carência nestes aspectos, que dificultam, muitas vezes, o andamento do nosso trabalho”, explica.

O ator Eliseu Pereira (43) está satisfeito com a primeira parte de debates. “É uma ótima oportunidade para conhecermos o que as pessoas querem e desejam da cultura, apresentando propostas”

Para Mansur, “a discussão está interessante e, mais do que isso, as políticas públicas e as iniciativas pontuais necessitam que sejam muitas vezes sinalizadas pela sociedade, que aponta o que quer na área da cultura, além do que já está sendo oferecido”.

Farid vê, com alegria, a realização desta Conferência. “Esta é a minha bandeira, fiz isso em toda a minha vida pública, defendendo a cultura, seja nos eventos que criei ou nos projetos que apresentei, como os mais recentes que transformam os festivais de música Canta Limeira e FestiAFRO e o Festival Nacional de Teatro em leis, protegendo-os dentro da programação cultural da cidade”, diz.

Na segunda parte do evento, programada para acontecer a partir das 13h, as propostas idealizadas pelos eixos irão ao Plenário para votação. As que forem aprovadas serão levadas à Conferência Estadual da Cultura pelos delegados representativos do município, que também serão escolhidos na tarde de hoje.

Os temas discutidos são: 1 - Produção Simbólica e Diversidade Cultural; 2 – Cultura, Cidade e Cidadania; 3 - Cultura e Desenvolvimento Sustentável; 4 - Cultura e Economia Criativa; e 5 - Gestão e Institucionalidade da cultura.


Em 17 de outubro de 2009