Hoje nenhuma apresentação cultural integrava àquele pequeno teatro de arena. Quatro refletores virados para o palco, porém o holofote que mais brilhava vinha do céu, uma lua, tão vaga, no formato de uma vírgula que, cansada de tudo, adormeceu pouco se importando se o sentido da língua portuguesa seria alterado, por qualquer motivo que seja.
Ao redor do espaço, gelado e sem graça, flores cor de rosa e murchas lembravam os corações dos apaixonados sem reciprocidade. E no centro do palco, um quase invisível – de tão pequeno – besouro patinava pelas poças provavelmente elaboradas pela chuva que caiu à tarde. E já era noite. Sabe-se lá há quanto tempo o bicho peçonhento estava lá, tentando encontrar o seu caminho de volta com ou sem dificuldade. O inseto reforça a máxima de que, às vezes, somos tão sozinhos na imensidão do espaço em que vivemos.
Além de água, o “senhor sozinho” encontra pelo trajeto, algumas folhas secas que desistiram de prosseguir adiante, talvez tenham perdido a coragem das outras companheiras – de cor rosa, já relatadas acima – e se entregaram ao desprezo e à dor de, num lugar onde era para brilharem, sentirem-se tão distantes delas mesmas.
Em um ritmo alucinante, as pessoas passam pelo palco e nem o observam e, tampouco, tentam ajudar o besouro no doloroso – e até torturante – caminho de buscar a si mesmo. As outras poucas que se acomodam pelos assentos disponíveis por ali seguem de costas para o espaço. Vozes se difundem entre agudos (alguns até estridentes) e graves, contando-se as novidades de um final de semana; para uns, tão doce e linear; para outros, tão dilacerantes.
O aroma de chocolate quente misturado com amido de milho vindo de uma doceria – com muito mais luz e vida do que o espaço cênico – desperta a alma da moçada que se enche de lãs de todos os tipos e cores para espantarem o frio ou as suas amarguras introspectivas.
E o palco, que prossegue apenas sob iluminação natural, agora me revela uma delicada constatação: não foram poças as barreiras daquele pobre besouro e sim lágrimas de uma amargura sem definição. Inexplicável. Sem brilho, sem cor, sem alegria e sem aplausos... Apenas um besouro como a sua principal – e única - estrela maior.
Ao redor do espaço, gelado e sem graça, flores cor de rosa e murchas lembravam os corações dos apaixonados sem reciprocidade. E no centro do palco, um quase invisível – de tão pequeno – besouro patinava pelas poças provavelmente elaboradas pela chuva que caiu à tarde. E já era noite. Sabe-se lá há quanto tempo o bicho peçonhento estava lá, tentando encontrar o seu caminho de volta com ou sem dificuldade. O inseto reforça a máxima de que, às vezes, somos tão sozinhos na imensidão do espaço em que vivemos.
Além de água, o “senhor sozinho” encontra pelo trajeto, algumas folhas secas que desistiram de prosseguir adiante, talvez tenham perdido a coragem das outras companheiras – de cor rosa, já relatadas acima – e se entregaram ao desprezo e à dor de, num lugar onde era para brilharem, sentirem-se tão distantes delas mesmas.
Em um ritmo alucinante, as pessoas passam pelo palco e nem o observam e, tampouco, tentam ajudar o besouro no doloroso – e até torturante – caminho de buscar a si mesmo. As outras poucas que se acomodam pelos assentos disponíveis por ali seguem de costas para o espaço. Vozes se difundem entre agudos (alguns até estridentes) e graves, contando-se as novidades de um final de semana; para uns, tão doce e linear; para outros, tão dilacerantes.
O aroma de chocolate quente misturado com amido de milho vindo de uma doceria – com muito mais luz e vida do que o espaço cênico – desperta a alma da moçada que se enche de lãs de todos os tipos e cores para espantarem o frio ou as suas amarguras introspectivas.
E o palco, que prossegue apenas sob iluminação natural, agora me revela uma delicada constatação: não foram poças as barreiras daquele pobre besouro e sim lágrimas de uma amargura sem definição. Inexplicável. Sem brilho, sem cor, sem alegria e sem aplausos... Apenas um besouro como a sua principal – e única - estrela maior.
Ronald Gonçales